16 de outubro de 2009

O FIM DO MUNDO É UM LUGAR MAIS DESCONHECIDO DO QUE NUNCA


Quando eu era criança, minha mãe costumava dizer que certos lugares ficavam no "fim do mundo". Apesar de estar a apenas 20 ou 30 minutos do tal lugar, ainda assim a idéia de chegar lá nos remetia ao tal fim do mundo. Não havia como nos locomovermos até o fim do mundo por vários motivos e, um deles, era não sabermos onde ele ficava.

Depois, eu cresci (um metro e oitenta e dois) e comecei a procurar o meu próprio fim do mundo... Fosse de metrô, ônibus ou imaginação.

Hoje, o fim do mundo que me cabe é menos cabalístico, menos abusadamente religioso, menos sarcástico e menos tantas coisas que não vale a pena entrar em detalhes. Ele chega a ser tímido... O meu fim do mundo não tem data, porque é um algo preguiçoso e gosta de contar com a possibilidade de não haver tempo. Um fim do mundo que se preza deve ser assim, não é? Espero...

Foi então que, numa dessas andanças sem rumo, me deparei com algo que era o fim do mundo. Vi um dito de um alguém falando a todos os ventos (naturais e imaginários) e para qualquer um (humano ou não) ouvir que o mundo iria chegar ao fim. Aquilo era o fim do mundo! Nem digo pelo fato em si, porque tudo acaba, afinal de contas. Mas, o mundo não poderia chegar ao fim daquele jeito que ele estava pintando... Viver para ir água abaixo com o mundo daquela forma?

Acontece que, no caldeirão do fim do mundo, muita gente aproveita para misturar, junto com as de outros, idéias revolucionárias, capazes de mudar o mundo... Antes que ele acabe. Aquele homem gritando no meio da rua, esbravejando com as pessoas, dizendo que se eles não se entregassem a Deus (o conhecido (?) ou o desconhecido) o mundo acabaria em fogo e lágrimas, parecia tão surreal quanto uma ofensa para os ouvidos cansados do rotineiro som de uma cidade turbulenta, onde problemas se acumulam e a crença virou fé que engana.

Pessoas dedicadas a salvar almas humanas às vezes esquecem que elas talvez não estejam à disposição ou adotaram a liberdade de escolha, optando por outra direção. Aquele fim do mundo que misturava chamas e água salgada era uma afronta a uma crença muito maior do que qualquer outra... O fim do mundo é fachada para não se apostar no que existe de bom e para movimentar um comércio menos animador... O da vida. É através desse comércio liderado pela falta de respeito que andamos assistindo a um fim de mundo mais pagão do que nunca. Aquele mesmo que coloca na frente da gente o seu objeto de luxúria... Assistir ao fim do mundo de pessoa em pessoa... De guerra em guerra... De desistência em desistência.

De profecia em profecia, eu fico com a da minha mãe: se não der para ir a pé, vá de trem, mas não deixe de ir... Ainda que seja no fim do mundo.

PROBLEMAS


Depois da tempestade, vem a bonança. E qualquer pessoa, com o mínimo de experiência, consegue ver o armário embutido: depois da bonança, vem a tempestade.

É difícil alguém passar um ano sem que lhe apareça um problema. Não uma dificuldadezinha qualquer, daquelas que acontecem duas ou três vezes ao dia, mas um problema digno de você se lembrar da palavra Matemática, para o melhor ou para o pior.

A nossa primeira reação é: "Por que aconteceu isso comigo?". Este sentimento de injustiça talvez seja a grande prova de que nós, seres humanos, temos o desejo de ser felizes, ou pelo menos de levar uma vida tranqüila.

Aos poucos, vendo que nossa simples resistência é inútil, que não vai resolver a situação, aceitamos que estamos vivendo um problema que precisa ser solucionado. É a hora em que caímos em nós mesmos, em que paramos de pensar que alguma coisa caiu em nós.

Depois, começamos a nos encantar com o problema, a senti-lo como um desafio. A nossa amargura vai sendo trocada pela diversão de estudar o problema, de observá-lo pelos mais diferentes ângulos, de trocar informações sobre ele com parentes, amigos, amores, terapeutas, 0900, suporte técnico e até com o próprio Deus.

Então vem a fase final: a vitória. Na pior das hipóteses, conseguimos sobreviver. Na melhor, temos a sensação de grandeza, de sermos heróis do nosso próprio destino, de termos descoberto a lâmpada elétrica, o espinafre, o amendoim... Sentimos o impulso de gritar "Shazam!", "Eureka!".

O problema, agora já minúsculo e bem no passado, foi o impulso inicial, o chamado de Deus, o motor de nossa superação, a rampa para o nosso vôo. Temos a mais plena confiança de que o problema não só não era mau como era necessário.

Estamos, enfim, felizes por ter resolvido um problema que, para começo de conversa, não devia nem ter aparecido.