Quando eu era criança, minha mãe costumava dizer que certos lugares ficavam no "fim do mundo". Apesar de estar a apenas 20 ou 30 minutos do tal lugar, ainda assim a idéia de chegar lá nos remetia ao tal fim do mundo. Não havia como nos locomovermos até o fim do mundo por vários motivos e, um deles, era não sabermos onde ele ficava.
Depois, eu cresci (um metro e oitenta e dois) e comecei a procurar o meu próprio fim do mundo... Fosse de metrô, ônibus ou imaginação.
Hoje, o fim do mundo que me cabe é menos cabalístico, menos abusadamente religioso, menos sarcástico e menos tantas coisas que não vale a pena entrar
Foi então que, numa dessas andanças sem rumo, me deparei com algo que era o fim do mundo. Vi um dito de um alguém falando a todos os ventos (naturais e imaginários) e para qualquer um (humano ou não) ouvir que o mundo iria chegar ao fim. Aquilo era o fim do mundo! Nem digo pelo fato em si, porque tudo acaba, afinal de contas. Mas, o mundo não poderia chegar ao fim daquele jeito que ele estava pintando... Viver para ir água abaixo com o mundo daquela forma?
Acontece que, no caldeirão do fim do mundo, muita gente aproveita para misturar, junto com as de outros, idéias revolucionárias, capazes de mudar o mundo... Antes que ele acabe. Aquele homem gritando no meio da rua, esbravejando com as pessoas, dizendo que se eles não se entregassem a Deus (o conhecido (?) ou o desconhecido) o mundo acabaria em fogo e lágrimas, parecia tão surreal quanto uma ofensa para os ouvidos cansados do rotineiro som de uma cidade turbulenta, onde problemas se acumulam e a crença virou fé que engana.
Pessoas dedicadas a salvar almas humanas às vezes esquecem que elas talvez não estejam à disposição ou adotaram a liberdade de escolha, optando por outra direção. Aquele fim do mundo que misturava chamas e água salgada era uma afronta a uma crença muito maior do que qualquer outra... O fim do mundo é fachada para não se apostar no que existe de bom e para movimentar um comércio menos animador... O da vida. É através desse comércio liderado pela falta de respeito que andamos assistindo a um fim de mundo mais pagão do que nunca. Aquele mesmo que coloca na frente da gente o seu objeto de luxúria... Assistir ao fim do mundo de pessoa
De profecia em profecia, eu fico com a da minha mãe: se não der para ir a pé, vá de trem, mas não deixe de ir... Ainda que seja no fim do mundo.